"Quem tropeça é sempre alguém que se distrai a olhar para as estrelas" Vladimir Nabokov (nome do blogue veio do livro para crianças de Virgínia de Castro e Almeida)
sexta-feira, julho 31, 2015
Post 4978 Morte no Lago dos Cisnes - 2ª tentativa - qual a melhor?
Aquele era o seu dia. Finalmente tinha chegado a primeira bailarina. Enchera o teatro
e todos ali presentes tinham vindo para a ver. Anos de trabalho e sacrifício
justificados pela glória que sempre ambicionara como sua.
No
último passo, quando salta do falso penhasco, sentiu uma pancada no peito.
Como, não percebia. Queria falar, mas não conseguiu, o sangue sufocava-a,
queria respirar, mas caía numa escuridão fria, e de repente, o nada.
Na
plateia ninguém percebeu inicialmente o que se tinha passado.
Cerraram
a cortina e irromperam os aplausos.
Outros
bailarinos vieram agradecer, mas ela, não. Até que veio o Director explicar que
não se tinha sentido bem.
Lentamente,
começaram a sair do teatro. Cá fora, os mais céleres, cruzaram-se com a
ambulância que chegava, os seguintes, viram o carro de polícia.
Só
mais tarde vieram a saber o que se tinha passado. Tatiana Lazlo tinha sido
assassinada, em plena actuação, na cena final. Nunca mais iria dançar.
A
polícia não conseguiu encontrar a arma, nem qualquer indício que conduzisse ao
seu assassino ou ao motivo para o crime.
Apenas
uma pessoa sabia a razão porque tinha sido o autor.
Dez
anos de ódio, a treinar-se e a planear tudo que decorrera tal como imaginara.
Com uma pontaria exímia, posicionou-se num lugar meio escondido por uma coluna e conhecia perfeitamente a coreografia para disparar naquele momento.
Tinha
sido fácil sair logo depois, quando o príncipe seguia Odette no salto, antes do
ballet terminar com a morte do mago e libertação das jovens mulheres do feitiço
da transformação em cisnes.
Há
doze anos atrás, quando Tatiana era apenas a promessa do que viria a tornar-se,
outra adolescente da mesma idade é que se destacava na Academia: a sua filha
Hanna.
Quando
ela foi atropelada, não soube logo o que tinha ocorrido. O condutor clamava que
ela tinha sido empurrada. Acreditaram numa confusão ou brincadeira infeliz.
Nada apuraram por interesse ou negligência.
Estava
com a sua filha quando o cirurgião que a operou às pernas lhe disse que nunca
mais poderia dançar. Acompanhou-a durante as fases do choque e desespero.
Quando pensava que ela estaria a recuperar, encontrou-a no quarto agonizante,
depois de ter ingerido veneno para ratos. A sua bela e preciosa filha
deixou-lhe uma carta na qual explicava o que tinha sucedido, quem a tinha
empurrado, por inveja.
Desde
esse dia viveu para a vingança.
Depois,
só sentiu o vazio.
quinta-feira, julho 30, 2015
Post 4977 Desafio - Morte no Lago dos Cisnes, 1ª tentativa
Cerrou-se a cortina e irromperam
os aplausos.
Era a altura de virem agradecer,
e uma menina da companhia aguardava já preparada com o ramo de rosas para
ofertar à primeira bailarina.
Alexandre pensou primeiro que
Tatiana estaria a brincar porque não se mexia. Ficara imóvel depois do salto
para o lago, na realidade, para um colchão, longe do olhar do público.
Alexandre seguira-a no salto e ficara a escutar a música, quase conseguindo ver
os passos que se seguiam: a morte do mago e a libertação de cisnes das
restantes jovens enfeitiçadas, na iluminação rosa do amanhecer.
Apenas quando tudo terminou é que
olhou melhor para ela, viu que continuava na mesma posição ao invés de como de
costume se preparar para acolher o seu público, e receou que pudesse ter desmaiado.
Tocou-lhe e sentiu-a estranhamente molhada. Acenderam as luzes e notou ao mesmo
tempo o sangue na sua mão e no tule do vestido branco. À sua volta também os
demais repararam e rodearam-nos. Um pequeno círculo no peito indicava que tinha
sido baleada e já não parecia respirar. Não conseguiam localizar Rothbart, o agente
da secreta, porque entusiasmado com a maquilhadora Odile se tinha perdido com
ela num dos camarins.
Lá fora a ovação aumentava e o
Director teve de dirigiu-se ao palco para anunciar que Tatiana Lazla não se
estava a sentir bem e por isso não viria despedir-se e corresponder.
Chamaram uma ambulância e a
polícia. Os médicos constataram a sua morte. Os agentes policiais, chegaram ao
teatro pouco depois e verificaram que uma parte dos espectadores tinha já saído.
Encerraram as portas, mas era demasiado tarde, não conseguiram descobrir a
arma, nem nada de suspeito.
Para o mundo inteiro, Tatiana
Lazla tinha morrido, vítima do crime perfeito, presenciado por centenas de
testemunhas que a viram cair, mas acreditaram que fazia parte da coreografia.
O seu homicídio permaneceria para
sempre um mistério, e ficariam sem resposta as questões sobre quem a tinha
morto e a razão porque o tinha feito.
Para todos? Talvez não.
Como Alexandre viria a saber
muitos anos depois, Tatiana, amante do secretário do Ministro da Defesa,
Siegfried Odette, tinha estado a facultar informações à CIA até levantar suspeitas.
Com a missão e identidade comprometidas, apenas a simulação da sua morte a
poderia salvar e aos seus poucos familiares.
Não dançou mais em público, mas
viveu o resto da sua vida em liberdade.
quarta-feira, julho 29, 2015
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