Foi
por pouco, muito pouco.
José,
o seu filho mais novo nunca ligou aos estudos, faltou-lhe o pai muito cedo e
revoltava-se por tudo o que não tinha. Meteu-se a conduzir sem carta, nem
idade. Pelo caminho, encheu várias vezes o depósito do carro sem pagar, tirou‑lhe
dinheiro às escondidas a ela e aos irmãos, e pior ainda, aos vizinhos.
Ela
foi fazendo o que podia. Tirava da pensão que mal lhe chegava e pedia
emprestado à família e amigos para acabar com os processos, salvar o seu filho.
Em casa zangava-se com ele, que não lhe respondia. Não tinha um mau fundo.
Tinha era azar e falta de cabeça. Andava com más companhias. Não pensava
primeiro, antes de as fazer.
Até
que chegou o dia que lhe escapou um processo. O José quis esconder-lhe o que se
passava, deu uma morada errada ou de uma ex-namorada, sem se lembrar depois que
assim não ia saber da notificação. Levaram-no detido para o julgamento e foi
condenado numa multa. Por vergonha ou confusão continuou a não lhe contar.
Deixou que o tempo passasse, sem ligar às cartas que lhe enviavam, sem fazer
nada e sem pagar nada. O tempo passou e veio de novo a polícia buscá-lo para
cumprir pena de prisão em substituição da multa. Foi uma aflição. A polícia à
porta, ele a tentar consolá-la, “pode ser que assim eu aprenda mãe”. Repetia o
que ela lhe tinha dito antes tantas vezes.
Nunca
mais se esqueceria, daquele dia 23 de Dezembro, todos na azáfama da celebração
que chegava, e ela sem os seiscentos euros precisos, da pena esquecida.
Esgotados de outras vezes até os irmãos e os poucos amigos, só com a lembrança
da quadra, a receberam. Chorava ela que ficaria sozinha na sua casinha, não
poderia ir a casa dos outros filhos e noras, sabendo o seu mais novo na prisão.
Juntaram o dinheiro, conseguiu ser atendida e que lhe fizessem as contas do que
era preciso pagar.
No
dia 24, deixaram-no sair da prisão. Só ficou lá um dia e uma noite, mas viu-o
triste e mais pequeno e só voltou a ser ele, quando chegaram à rua onde
moravam. Concordou com ela que nunca mais, prometeu-lhe de novo que iria ser
diferente e como das outras vezes, ela quis acreditar.
Depois
de um tão grande susto, tinha o seu filho em casa e por isso para ela também
foi Natal.
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