domingo, outubro 16, 2016

Post 5832 - Natal

Foi por pouco, muito pouco.
José, o seu filho mais novo nunca ligou aos estudos, faltou-lhe o pai muito cedo e revoltava-se por tudo o que não tinha. Meteu-se a conduzir sem carta, nem idade. Pelo caminho, encheu várias vezes o depósito do carro sem pagar, tirou‑lhe dinheiro às escondidas a ela e aos irmãos, e pior ainda, aos vizinhos.
Ela foi fazendo o que podia. Tirava da pensão que mal lhe chegava e pedia emprestado à família e amigos para acabar com os processos, salvar o seu filho. Em casa zangava-se com ele, que não lhe respondia. Não tinha um mau fundo. Tinha era azar e falta de cabeça. Andava com más companhias. Não pensava primeiro, antes de as fazer.
Até que chegou o dia que lhe escapou um processo. O José quis esconder-lhe o que se passava, deu uma morada errada ou de uma ex-namorada, sem se lembrar depois que assim não ia saber da notificação. Levaram-no detido para o julgamento e foi condenado numa multa. Por vergonha ou confusão continuou a não lhe contar. Deixou que o tempo passasse, sem ligar às cartas que lhe enviavam, sem fazer nada e sem pagar nada. O tempo passou e veio de novo a polícia buscá-lo para cumprir pena de prisão em substituição da multa. Foi uma aflição. A polícia à porta, ele a tentar consolá-la, “pode ser que assim eu aprenda mãe”. Repetia o que ela lhe tinha dito antes tantas vezes.
Nunca mais se esqueceria, daquele dia 23 de Dezembro, todos na azáfama da celebração que chegava, e ela sem os seiscentos euros precisos, da pena esquecida. Esgotados de outras vezes até os irmãos e os poucos amigos, só com a lembrança da quadra, a receberam. Chorava ela que ficaria sozinha na sua casinha, não poderia ir a casa dos outros filhos e noras, sabendo o seu mais novo na prisão. Juntaram o dinheiro, conseguiu ser atendida e que lhe fizessem as contas do que era preciso pagar.
No dia 24, deixaram-no sair da prisão. Só ficou lá um dia e uma noite, mas viu-o triste e mais pequeno e só voltou a ser ele, quando chegaram à rua onde moravam. Concordou com ela que nunca mais, prometeu-lhe de novo que iria ser diferente e como das outras vezes, ela quis acreditar.
Depois de um tão grande susto, tinha o seu filho em casa e por isso para ela também foi Natal.


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