quinta-feira, março 23, 2017

Post 6105 - Desafio de Escrita 10/10 Fim

 Fim em apoteose, ou como deveria ter sido.
O céu cintilantemente azul deveria ter escurecido logo após os raios vermelhos que surgiram pálidos e não sintonizados com os trovões que ao invés os precederam
Mas onde é que se viu, ouvir-se o trovão antes do relampejar?
Ali, tinha de ser ali!
No chão os corpos de dois dos “mortos” surpreendidos com o trovejar antecipado não conseguiram evitar estremecimentos inausitados – estavam a rir!
Todos deveriam ter permanecido imóveis, enquanto a cortina desceria lentamente.
Ao invés, o céu não escureceu, raios rosados seguiram-se aos trovões, e nem os mortos ficaram quietos.
Mas tinha de ser logo na noite de estreia?!
Desisto! Pensou. Nunca mais volto a encenar qualquer peça com este bando de amadores incompetentes.
Nessa altura, começou a ouvir os aplausos. O público levantava-se para aplaudir entusiasticamente. Ouviu “bis” e “muito bem”.
Voltaram ao palco já ressuscitados os que tinham morrido durante a tragédia e juntavam-se aos heróis sobreviventes. O par romântico, ao qual fora apenas permitido um abraço e no último acto, sorria agora separado, o herói com os amigos, a heroína de mãos dadas com o vilão com ar zombie, com quem começara a “sair” dias antes.
Chamaram por ele.
Hesitou, só por segundos, mas foi juntar-se aos colegas.
Luzes acesas, reconhecia na plateia os pais e demais parentes e alguns professores. Todos pareciam bem animados.
Talvez a peça não tivesse corrido tão mal como pensara…
Ou estariam animados porque finalmente tinha acabado?
Iniciou e terminou com aquela peça de escola, a sua brilhante carreira enquanto encenador.
Muitos anos depois conseguia rir-se de si próprio, de como levara tudo tão a sério, da sua irritação com os falhanços técnicos e amadorismo dos actores – mas ali eram todos amadores, garotos de doze e treze anos.
E nunca esqueceu aquele fim.

5 comentários:

  1. Ó Gábi ! ... Não sei como te dizer ! ... Li uma vez, outra e outra e só te posso dizer que adorei a tua criatividade !
    Isto de imaginar uma peça teatral escolar, com um final "quase desastroso" (no ponto de vista do encenador) foi de mestre !!!
    Dou-te os meus sinceros parabéns !
    .

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    1. muito obrigada pelas tuas palavras, Rui - ainda não sei a nota que vou ter com este, mas com o que escreveste já sinto que ganhei :)
      um beijinho grande
      Gábi

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  2. Um texto espectacular, que nos agarra da primeira à última palavra!
    Muitíssimo bem construído! Parabéns pelo talento!
    Beijinhos
    Ana

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